Quando a pressa e a autoconfiança resolvem trabalhar juntas no canteiro de obras, elas se disfarçam de produtividade para atropelar a segurança dos que acreditam nos poderes do “eu sozinho”. 

Foi o que aconteceu com Edvan da Silva Costa (foto), 41 anos, e pode acontecer a qualquer um que se julgue autossuficiente para resolver problemas que, aparentemente, são de fácil solução. 

Por não esperar 20 minutos pelo regresso do companheiro que se ausentara para beber água, Edvan ficou mais de 100 dias afastado do trabalho e até hoje luta para receber os atrasados do INSS.

Tudo aconteceu por causa de uma escora que Edvan julgou estar mal posicionada, no suporte de uma laje de um empreendimento na Zona Oeste, onde trabalhava, pela Machado Vieira Engenharia. 

Ele e o colega concordaram que a escora poderia ser retirada, acomodada no chão e, depois, reposicionada em melhor lugar. Mas a escora media seis metros de comprimento e pesava 30 quilos. Antes de dividirem o peso, o companheiro pediu que Edvan o esperasse:

– Vou beber água e não demoro. 

Mas Edvan não queria ficar parado, esperando. Achou que ele poderia fazer a tarefa, mesmo sabendo que as instruções passadas pelos técnicos de segurança são para que todos trabalhem em duplas, nunca isoladamente. 

– Tirei a escora e me agachei para colocá-la no chão. Mas, naquele momento, ela escorregou das minhas luvas e caiu sobre o meu pé esquerdo. Foi numa dor terrível, quase desmaiei – lembra o carpinteiro, que trabalha na MV há um ano, mais ou menos.

Edvan expõe à técnica de segurança do trabalho Stephanie Faria todas as dificuldades impostas pelo afastamento do trabalho – Fotos MV/ Rafael Miller

Apesar das dores e dificuldades para apoiar o pé no chão, Edvan considerou que podia continuar trabalhando. Uma hora e meia depois, já não suportando o sofrimento, resolveu contar ao encarregado e este, imediatamente, chamou o técnico de segurança. O pé inchara de tal modo que só conseguiram retirar a bota no Hospital Lourenço Jorge, na Barra. O raio X revelou que o pé estava fraturado. Edvan precisaria de repouso, remédios, exames e, posteriormente, fisioterapia.

Como acontece em casos de acidente de trabalho, os primeiros 15 dias correm por conta da Empresa. Mas, a partir do 16º, o empregado tem que recorrer ao INSS. É submetido a consultas, perícias e várias exigências para conseguir o benefício. A cada perícia, ganhou mais 30 dias de afastamento, totalizando 105 dias intermináveis, sem receber o valor total do seguro e a permissão para se reintegrar à MV.

 Edvan é casado com Luciana Costa, que trabalha num hospital, em Campo Grande. Foi ela quem o ajudou a segurar as despesas da casa durante esse período. O casal mora na Penha Circular, em companhia de uma filha. 

– Durante o afastamento, tinha que correr atrás de biscates para sobreviver. Me arrisquei a sofrer outro acidente, mas sem qualquer cobertura de seguro – diz ele, ainda traumatizado.

Mesmo com o segurado não estando na plenitude de suas condições e sem receber os benefícios atrasados, o INSS liberou Edvan. Ele está de volta à MV, onde o médico impôs algumas restrições: temporariamente, está proibido de pegar peso e subir escadas. E tem que passar por uma reciclagem no curso de prevenção de acidentes do trabalho. 

Tudo isso pela pressa, que é uma das principais causadoras de acidentes.

– Foi um castigo, um grande castigo… – desabafa, arrependido.

Hoje, Edvan tenta aconselhar quando vê colegas incorrerem no mesmo erro. 

 Estatística de Acidentes na Construção Civil

A necessidade de reduzir acidentes na construção civil se torna ainda mais evidente quando analisamos as estatísticas do setor.

Segundo dados do Observatório Digital de Saúde e Segurança do Trabalho, entre 2012 e 2020, aconteceram cerca de 5,58 milhões de acidentes de trabalho no Brasil. O que representa um acidente a cada 50 segundos!

Desses, 119 mil foram em construção civil e resultaram em 9.456 mortes em oito anos. O que faz deste setor o quinto com maior quantidade de acidentes.

Principais Causas de Acidentes 

O trabalho em Construção Civil é dinâmico, exige movimentação do trabalhador durante todo o dia, portanto, são várias as situações em que podem ocorrer acidentes. Conheça as principais causas:

  • ·      Colaboradores sem Treinamento
  • ·      Falta de Atenção dos Colaboradores
  • ·      Uso Incorreto ou Falta de Uso de EPIs
  • ·      Equipamentos e Máquinas Obsoletas

Tipos Mais Comuns de Acidentes

No setor de construção civil, existem alguns tipos de acidentes mais comuns. Conhecer as causas e os tipos é indispensável para evitá-los com eficácia.

  • ·      Quedas em Altura
  • ·      Cortes e Lacerações 
  • ·      L.E.R. (Lesões Por Esforços Repetitivos)
  • ·      Exposição aos Sons Altos

Fonte: Smartlab – Retrato de Localidade – Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho (smartlabbr.org)

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